terça-feira, 10 de julho de 2007

W.A.Mozart - Sinfonia Concertante, K364, em Mi bemol Maior

No meio de uma surpreendente coleção de 27 Concertos para piano, 5 concertos para violino e para trompa, além de concertos solos para flauta, oboé, clarinete e fagote, Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) escreveu sete obras para dois ou mais instrumentos solistas e orquestra, quase todos compostos em 1778 e 1779. Juntamente com o Concertone para dois violinos e orquestra, K 187e, há uma Sinfonia Concertante, K297b, para quatro instrumentos de sopro e orquestra, cuja autenticidade é questionável, o Concerto para Flauta e Harpa, K297c, o Concerto para Dois Pianos, K316a, e a obra que ouviremos hoje, que é geralmente considerada como a composição mais significativa dele composta no ano de 1779.

Mozart era certamente um excelente violinista, mas na verdade ele preferia tocar viola quando tocava em conjunto de música de câmara. Mozart compôs esta Sinfonia Concertante provavelmente com a intenção de ficar com a parte da viola para si. A obra contém duas particularidades interessantes: Primeiramente, o naipe das violas na orquestra é dividido em duas partes (assim como o naipe dos violinos é dividido em 1º e 2º violinos), presenteando a obra com uma sonoridade orquestral mais rica no registro médio. Além disso, Mozart na verdade escreveu a partitura da viola solista em Ré Maior, instruindo o solista a afinar o seu instrumento um meio-tom acima, para assim soar Mi bemol Maior. Este estratagema, bem conhecido entre os instrumentistas de cordas, confere um maior brilho e permite que a viola possa competir de igual para igual com o brilhantismo inato do violino.

A Sinfonia Concertante segue o padrão de concerto em três movimentos. Um pomposo Allegro maestoso de abertura é seguidos por um Andante que nos remete a um dueto de amor presente em suas óperas. As cadências em ambos os movimentos são de autoria do próprio Mozart. O Presto final conclui a obra em um elevado estado de espírito.


Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

10 de Julho de 2007

Solistas: Emerson Kretschmer (Violino)

Vladimir Romanov (Viola)

Regente: Manfredo Schmiedt

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ludwig van Beethoven - Sinfonia nº5, em dó menor


A Sinfonia nº5 é uma das obras-primas de Beethoven, disputando em popularidade com a sua 9ª sinfonia. Não é para menos, pois o esforço empregado em ambas as sinfonias foi descomunal. A estréia (première) desta grandiosa sinfonia foi em Viena, no final de 1808, no Teatro “An der Wien”, num concerto com uma duração de mais de 4 horas somente de grandes estréias do compositor, como o Concerto para Piano nº4, a Sinfonia nº6 “Pastoral” e a Fantasia Coral op.80, para Piano, Orquestra e Coro, (que foi um exercício composicional para a 9ª sinfonia, que no quarto e último movimento utiliza uma inovação inédita até ali em termo de sinfonia, um Coral!) entre outras peças executadas e regidas pelo próprio Beethoven. Porém, há anotações a respeito desta Quinta sinfonia que datam do ano de 1800 e 1801. Ele retoma a produção em 1804 e vai até 1807, paralelamente à produção da sua ópera “Fidélio” e do 4º Concerto para piano e orquestra. Nessa época, o compositor lutava por uma forma ideal para o tema de abertura: a tonalidade escolhida para esta sinfonia era a preferida de Beethoven, Dó menor, e o segundo e terceiro movimentos já estavam praticamente delineados quanto à sua formação. Pois é justamente no 1º movimento (Allegro com brio) que se apresenta a “Forma Sonata”, sem a qual não existe sinfonia e é nesse movimento que geralmente abriga as mais importantes idéias da obra integral, sendo por isso reconhecido como sua base mestra. Um dos princípios que regem o sucesso de uma música desse tipo é o potencial de “metamorfose” do tema inicial, justamente porque dele depende todo o resto. Pode-se dizer que Beethoven foi bem sucedido, pois não há quem não reconheça hoje este tema enérgico tão simples, porém tão cheio de possibilidades inerentes e que faz com que a obra seja tão poderosamente reconhecida. O segundo movimento transforma o clima em algo melancólico, com uma melodia inicial poética nas cordas, que culmina com a orquestra toda em um fortíssimo junto com uma “coda”. O terceiro e quarto movimentos ligam-se entre si através de um surpreendente “crescendo”. O terceiro consiste de um Scherzo e Trio contrastantes, iniciando nos violoncelos e nos contrabaixos, cria-se uma imensa expectativa até que a orquestra cresce em intensidade e então começa a triunfante marcha de abertura do impressionante e inovador último movimento, que é onde Beethoven mostra as suas garras em termos musicais, terminando de forma magistral e surpreendente!
















Nesta edição francesa de 1809, ainda pode-se ver a dedicatória que Beethoven fez dessa sinfonia a seus patronos, a quem ele os admirava muitíssimo, Príncipe Lobkowitz e Conde Rasumovsky.

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10 de Julho de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

terça-feira, 3 de julho de 2007

D.Shostakovich - Abertura Festiva, op.96

Apesar do reconhecimento em âmbito mundial de Dmitri Dmitrievich Shostakovich (1906 – 1975), ele está indissociavelmente ligado ao desenvolvimento político-cultural da extinta União Soviética, sob o governo de Stalin. Shostakovich era conhecido por seu característico nervosismo e ansiedade, e tinha razão para isso, pois se a opinião cultural do Partido não estivesse favorável à sua música, não importa quão receptivo o público fosse, ele poderia simplesmente desaparecer, assim como aconteceu, em 1948, com seu amigo próximo, o ator Solomon Mikhoels. Shostakovich vivia constantemente com medo que a mesma coisa ocorresse com ele.

A criação da Abertura Festiva é uma daquelas fantásticas histórias que se assemelham a lendas, e que revela a verdadeira natureza do gênio de um compositor. Seu amigo Lev Lebedinsky foi testemunha ocular disto e relatou que, quando ele estava no apartamento do compositor num certo dia durante o outono de 1954, eles receberam a visita do maestro da Orquestra do Teatro Bolshoi. Devido a misteriosas manobras políticas e confusões burocráticas, a orquestra precisava de uma nova música para celebrar o aniversário da Revolução de Outubro, e o concerto seria dali três dias. Simplesmente, Shostakovich sentou-se e começou a compor. Lebedinsky relata: “A velocidade com que escrevia era simplesmente estarrecedora. Além disso, enquanto escrevia música ele podia muito bem falar, fazer piadas e compor simultaneamente, como o lendário Mozart. Ele ria e se divertia, e enquanto isso a obra estava a caminho, a música sendo escrita com impressionante facilidade”. Não há nenhum sinal de pressa ou precipitação na vibrante Abertura Festiva. Ao contrário, nota-se claramente o bom humor do compositor enquanto a escrevia.

Aliás, Shostakovich, com seus nervos frágeis, regeu uma orquestra apenas em uma ocasião, num concerto organizado pelo seu amigo Mstislav Rostropovich, em 1962. E ele, por coincidência, começou o concerto com sua Abertura Festiva.

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3 de Julho de 2007

Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)

I.Jevtic - Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra

Ivan Jevtic nasceu há 60 anos em Belgrado, na antiga Iugoslávia, mas seu brilhante Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra tem muito de brasileiro - e mais ainda de Gaúcho. Portanto, não é uma coincidência que, neste noite, a Sinfônica de Porto Alegre esteja fazendo a estréia desta obra no Brasil.

No final da década passada o compositor Sérvio viveu em Pelotas, onde lecionava música no conservatório da Universidade Federal. Escreveu este concerto na primavera de 1998, mesclando a saudade de sua terra natal com a influência rítmica que o Brasil exercia sobre ele. O próprio Jevtic revela que aquele foi um dos períodos mais ricos de sua criatividade de produção musical.

Na época, a Sérvia era combalida por sangrentos bombardeios durante a Guerra do Kosovo - o mais recente capítulo do violento processo de dissolução da Iugoslávia. O autor expressa no segundo movimento, Allegro giusto, que a obra passeia por ritmos até então pouco explorados pelo compositor, extravasando identificação e admiração pelo Brasil.

Antes de compor o Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra, Jevtic já havia escrito outra obra em solo gaúcho: o Divertimento para Dois Violoncelos e Orquestra de Cordas, de 1997. Sua forte relação com o Rio Grande do Sul ainda resultou na Abertura Solene para Orquestra Sinfônica - que, embora composta no Exterior, foi dedicada ao maestro da OSPA Manfredo Schmiedt.

Depois de conquistar grande aceitação entre os povos balcânicos, Jevtic vem dedicando aos gaúchos parte de sua história. Incontestável motivo de orgulho.

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3 de Julho de 2007

Solistas: Flávio Gabriel (Trompete)
José Milton Leite Filho (Trombone)
Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)

D.Shostakovich - Sinfonia nº1, op.10, em fá menor

Dmitri Dmitrievich Shostakovich (1906 – 1975) escreveu um total de 15 sinfonias, sendo que a primeira, apresentada hoje, data de 1925, e a última foi concluída em 1971. A Sinfonia nº1 foi escrita com o propósito de ser seu trabalho de encerramento no Conservatório onde Shostakovich, na época com 20 anos, estudava; logo ficou claro que ela extrapolava essa tarefa. Sua estrutura surpreende através do estranho cruzamento e até mesmo evasões de forma. Na forma tradicional de sinfonia com o 1º movimento baseado na forma sonata, scherzo, movimento lento e finale com estrutura livre são empregados meios estilísticos que formarão a futura linguagem musical característica de Shostakovich, como citações, tom grotesco e lacônico. Constata-se isso na introdução lenta, que nada tem da gravidade e ênfase em geral tão comum em começos de sinfonia, porém prepara os temas principais, uma “marcha dissimulada” e uma valsa rica, que caricaturam, no fundo, o princípio da formação polar de temas.

O primeiro movimento emprega, de certo modo, a prescrição tradicional de forma, mas logo a dobra, transformando-a em uma colagem de imagens bizarras. Toda a sinfonia conserva esse tom, que é mais bem evidenciado no scherzo com sedutora riqueza instrumental. O piano é incluído aqui, assim como no último movimento, aguçando a sonoridade. O scherzo lembra Prokofiev em sua precisão rítmica, mas o trio tem uma harmonia que lembra as técnicas de composição russa do final do século XIX. No final do movimento, estas duas características se sobrepõem enfaticamente. O 3º movimento é caracterizado por uma meditação de surpreendente lirismo, sua parte central com elementos de marcha fúnebre. No finale, pedaços de temas formam, muitas vezes sobre cromatismos, uma ciranda que vai ao exagero através do extremo registro da orquestra. Mais uma vez, Shostakovich rompe com limitações existentes, o que é acentuado pelo final dramático da sinfonia.

A Sinfonia nº1 tornou Shostakovich conhecido da noite para o dia. Ainda nos anos 20, a obra foi apresentada no Ocidente por regentes como Toscanini, e até hoje ela está entre as sinfonias mais tocadas de Shostakovich.

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3 de Julho de 2007

Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Mussorgsky/Ravel - Quadros de uma exposição

Modest Mussorgsky (1839 – 1881) foi em sua época um oficial da guarda militar. A aspereza e a incivilidade de sua música, em seus dias, chegavam a ser consideradas como falta de educação. Porém, foi justamente a obra que revela seu lado mais humano, que mais assegurou longevidade às suas músicas nas salas de concerto. É o ciclo Quadros de uma exposição para piano-solo, em homenagem ao pintor Victor Hartmann, amigo íntimo do compositor, que morreu de ataque do coração aos 39 anos em Moscou. Foi montada uma exposição em São Petersburgo, no começo de 1874, in memorian, para a qual o próprio Mussorgsky – segundo o catálogo – contribuiu com retratos de sua coleção, dos judeus Samuel Goldenberg e Schmuyle. A transposição de dez quadros de Hartmann para música foi conseguida pelo compositor em junho de 1874, em poucas semanas. A música, muito elaborada e inspirada em Liszt, é em muitos trechos, de uma densidade monumental. O elemento que liga o ciclo entre si é a Promenade, uma espécie de auto-retrato do compositor e seus sentimentos e reações ao caminhar entre uma pintura e outra. Isto tudo ouvido através da rica orquestração posteriormente trabalhada por Ravel (1875 – 1937).

A música começa com um cerimonioso solo de trompete e um coral de metais, que prepara a representação do Gnomo, um pequeno brinquedo “caminhando de forma estranha com pernas deformadas”, salientado por Ravel pela mordacidade do xilofone e por estranhos efeitos nas cordas. Após isto, o clima se ameniza pelo som da trompa e das madeiras, preparando desta forma o cenário do canto de um trovador no pátio de um castelo medieval, representado pelo saxofone. Novamente, a Promenade reflete o sentimento do compositor em relação à morte do amigo, mas é interrompido pela próxima pintura, onde se retrata crianças brincando no parque de Tuillieries, em Paris, observados por suas mães. Na próxima pintura, Bydlo, há um incomum solo para Eufônio. Após a próxima Promenade, ele retoma a consciência e se vê diante de peripécias de um passarinho que dança ballet. A seguir, o estereótipo de dois judeus, um rico e outro pobre. Ouve-se então o mercado cheio de mulheres, em Limoges, uma passagem delicadamente virtuosística. A seguir, vê-se o próprio pintor olhando apavorado dentro de uma Roma subterrânea, o que guia à próxima seção, onde Mussorgsky se vê diante dos esqueletos dos mortos. A última pintura, O Grande Portão de Kiev, é baseado no tema da Promenade, e evoca um majestoso portão ornamentado com um sino numa torre.

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19 de Junho de 2007

Regente: Manfredo Schmidt

Tchaikovsky - Concerto para Piano e orquestra nº1, op.23, em si bemol menor

Quando Piotr Ilyich Tchaikovsky (1840 – 1893), no inverno de 1874, decidiu compor seu primeiro Concerto para Piano, ele pouco havia lidado com música para piano. A respeito deste instrumento, fundamental para o desenvolvimento da música no século XIX, quase não existem anotações de Tchaikovsky, a não ser uma carta em que o compositor descreve a relação entre piano e orquestra – inserida dentro do gênero do concerto – como a “luta de duas forças iguais”.

O Concerto nº1 é bastante marcado por essa concepção energética e vigorosa. Definitivamente, é uma das obras que servem de modelo como música para piano e orquestra, e seu começo é uma das passagens musicais mais iconizadas. Porém, o pianista a quem originalmente foi escrito, Nikolai Rubinstein, de início achou-o muito desagradável, recusando-se a tocar o concerto. Desapontado, Tchaikovsky mudou a dedicatória em favor de outro virtuose muito apreciado por ele, Hans Von Bülow. Este, mais satisfeito, estreou o concerto no outono de 1875, em Boston. Obteve tanto sucesso, que Rubinstein se viu obrigado a voltar atrás, fazendo assim sua estréia européia em Paris, em 1878. Apesar de todas as mudanças no gosto do público, este concerto se mantém no mais alto ponto de popularidade até hoje, o que mostra que não perdeu nada de seu efeito e de sua força de espírito.

As trompas iniciam este concerto com um famoso ataque, e logo após surge o piano com uma sucessão de acordes ascendentes e colossais, como acompanhamento da melodia da orquestra, que é interrompida em seu desdobramento pelo solista em toda sua pujança. É justamente esta postura da música, que avançaa nervosa e intranqüila, procurando incessantemente um ponto de repouso – embora não consiga encontrar -, que deve ser a fonte da intensa motivação do concerto. A simplicidade do segundo movimento, com uma lânguida melodia e uma seção intermediária de andamento mais rápido, é contrastada com o impetuoso vigor do terceiro movimento, guiado por uma dança cossaca, que leva o concerto para um vigoroso final.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

19 de Junho de 2007

Solista: André Carrara (piano)
Regente: Manfredo Schmiedt

M.Glinka - Russlan e Ludmilla - Abertura

O surgimento da música nacional russa no século XIX está ligado, de maneira indissolúvel, ao nome Mikhail Glinka (1804 – 1857). Suas duas óperas (em especial a primeira), além de sua produção orquestral, marcam o fim de um longo “domínio estrangeiro musical” no desenvolvimento cultural do país. Até Glinka, os compositores russos absorviam e reproduziam a ópera italiana e o clássico vienense. Glinka procurou ativamente captar as manifestações musicais russas e ucranianas, até então inexploradas em termos composicionais. Desse modo, ele tornou-se o “pai” da música de concerto russa. Russlan e Ludmilla, sua segunda ópera, foi produzida em 1842 e iniciou uma tradição operística russa que iria ser mais bem desenvolvida na próxima geração, o uso de contos de fadas como base para libretos operísticos.

O libreto de Russlan e Ludmilla é baseado no conto de fadas, em forma de poema, de Alexander Pushkin, que conta a história de Ludmilla, filha do Príncipe Vladimir de Kiev (primeiro monarca russo a ser batizado pela Igreja, no ano 988 d.C). Ela é raptada pelo perverso anão e mago Chernomor, no dia de seu casamento com o bravo cavaleiro Russlan. Seu pai, desesperado, anula o casamento e promete a mão de sua filha a quem puder encontrá-la. Russlan e seus três rivais, o invejoso cavaleiro Rogday, o príncipe cazar Ratmir e o cavaleiro escandinavo Farlaf, saem em busca de Ludmilla.

A abertura é uma música breve e cheia de energia que se baseia em três temas: o de Russlan, enérgico e guerreiro; o de seu amor por Ludmilla, mais terno e apaixonado, tocado pelos fagotes, violas e cellos; e o tema do malvado anão Chernomor, que ao final é rapidamente banido, e assim a abertura termina num alucinante galope, em uma adequada conclusão a essa fantástica história.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

19 de Junho de 2007

Regente: Manfredo Schmidt

terça-feira, 12 de junho de 2007

S.Prokofiev - Sinfonia "Clássica" nº1, op.25

Sergei Prokofiev, nascido em 1891, começou a compor logo aos cinco anos de idade. Mais tarde, no conservatório de São Petersburgo, estudou com os grandes compositores russos da época, como Rimsky-Korsakov. Apesar dos alunos naquele conservatório não terem que estudar os compositores vienenses clássicos, o professor de regência de Prokofiev aconselhava o estudo desse repertório. Desse modo, o jovem compositor sentiu-se impelido a compor sua primeira sinfonia em um estilo composicional próximo ao de Haydn (não só em termos musicais, mas também o espírito inovador com que ele trata suas composições) fazendo-a assim ao estilo clássico, corroborando o seu subtítulo. Além disso, ele usou esta obra como um exercício de composição fora do piano, já que como pianista, ele desenvolvera o hábito de compor ao teclado.

Prokofiev começou a trabalhar na Sinfonia Clássica em 1916, terminando poucas semanas antes da Revolução de Outubro, em 1917. Esta se tornou uma de suas mais populares e acessíveis obras desde 1918, em sua estréia, onde foi classificada até como “superabundância de barulho” e “orgia de sons dissonantes”. Enquanto Prokofiev segue a procedimentos clássicos de construção musical, ele usa exaustivamente uma sonoridade com conteúdo dissonante bem presente, com um tratamento diferente de recursos instrumentais, apesar de estar na formação de orquestra clássica. No vivo Allegro, em forma sonata, os seus dois temas são razoavelmente clássicos, mas a maneira em que são trabalhados, com nuances de dinâmica e a variada orquestração, aponta para o futuro. No Larghetto, a graciosa e elegante melodia de abertura soa quase nostálgica, ao passo que o registro extremamente agudo das cordas cria a sonoridade característica de Prokofiev. A Gavotte é temperada com harmonias arrebatadoras, enquanto o Finale, marcado Molto Vivace, possui um ímpeto bastante enérgico.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

12 de Junho de 2007

Regente: Carlos Fernando Prazeres

Ernani Aguiar - Instantes II (Prados)

Ernani Aguiar (1950 -) tem obtido um expressivo reconhecimento como compositor, tanto no Brasil como no exterior. Suas obras têm ganhado sucessivas apresentações, gravações, edições e divulgação nos meios de comunicação. Destacam-se na sua produção obras para coro a capella como o “Salmo 150”, obras para diversas formações instrumentais como a série de Meloritmias para instrumentos só, além da Ópera "O Menino Maluquinho” com libreto de Ziraldo. Sua obra intitulada "Quatro Momentos nº 3" já mereceu oito diferentes registros fonográficos. Atualmente é professor de composição e regência da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É membro da Academia Brasileira de Música, ocupando a cadeira no. 4. Destacam-se também obras para orquestra de cordas como as séries "Quatro Momentos" e "Instantes". “Instantes II” baseia-se um evento que há 150 anos acontece na cidade de Prados/MG.

Trata-se do “Boi Mofado”, um evento tradicional nesta cidade em que suas ruas tornam-se passarela para o Boi Charmoso e o Boi Topa-Tudo, representando bairros da cidade. O boi, de armação de taquara, coberto com panos coloridos, sai dançando pelas ruas da cidade, guiado por um toureiro e acompanhado por uma mulinha, também feita de taquara, que é o abre-alas da festa. Animando o desfile, segue um cortejo de músicos com violões, reco-recos, chocalhos e guisas, enquanto o boi dança e investe contra as pessoas na rua. O nome Boi Mofado se deve ao fato deste ficar guardado o ano inteiro, saindo somente nesta época.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

12 de Junho de 2007

Regente: Carlos Fernando Prazeres

Béla Bartók - Danças Romenas

Béla Bartók (1881 – 1945) nasceu na Transilvânia, território hoje pertencente à Romênia. Ele foi, sem dúvida, um dos compositores contemporâneos mais originais do século XX, pois após um breve período, no qual compôs no estilo romântico tardio, empreendeu viagens de pesquisa e coleta musical feita em partes remotas da Europa oriental e até mesmo da África durante vários anos. Conforme ele próprio admite num depoimento autobiográfico, o material coletado foi de decisiva influência sobre sua obra porque o libertou do “reinado tirânico” de tons maiores e menores. De fato, grande parte destas melodias folclóricas era baseada em modos e escalas antigos cultivados por grupos isolados. O inusitado do material convinha ao estilo musical bem direto de Bartók. Em 1909, começou a busca de material musical entre os romenos, o que resultou na produção de um pequeno grupo de peças para piano, em 1915, baseado nas melodias que ele havia ouvido. Bartók compôs as Danças Romenas a partir de melodias que encontrara na Transilvânia, e segundo afirmou, quase nada mudou ou acrescentou às mesmas.

Segundo o biógrafo de Bartók, Halsey Stevens, as danças variam grandemente em caráter e em andamento, indo da gentil Buciomeana (Dança com Gaita de Foles), única em tempo ternário – assemelhando-se em certo grau a um minueto -, indo até a viva Poarg Româneasc (Polka Romena), além da enérgica Dança Rápida que fecha a série de danças. Destaca-se a serenidade da terceira dança Pe Loc (Dança sapateada), e sua evocação de música cigana.

Bartók escreveu essas danças originalmente para piano, porém, em 1917 ele mesmo as arranjou para orquestra. A popularidade delas se torna evidente pelo vultoso número de outros arranjos, como para orquestra de cordas, e para violino e piano.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

12 de Junho de 2007

Regente: Carlos Fernando Prazeres

segunda-feira, 4 de junho de 2007

J.Sibelius - Sinfonia nº2

Transcorridos 50 anos de falecimento, Jean Sibelius (1865 – 1957) ainda é lembrado como o principal compositor finlandês, compondo um dos mais belos concertos de violino já escritos para este instrumento, além de compor o que acabou sendo a melodia do Hino da Finlândia. É digno de nota que a natureza, assim como a mitologia, sempre estão presentes na sua música. Imbuído de uma série de características estilísticas próprias, como repetitivos trêmulos nas cordas (fazendo um efeito pulsante), longas notas que se sustentam, seu estilo harmônico caracteriza uma linguagem bastante diferenciada. Outra marca da música do compositor finlandês é sua habilidade de apresentar dois andamentos contrastantes ao mesmo tempo, o primeiro rápido e movido, o outro lento, marcado, reforçando a ação musical como um dobrar de sinos. Apesar de suas obras posteriores serem mais compactas, algumas destas características peculiares de Sibelius, como compositor orquestral, aparecem pela primeira vez na sua Sinfonia nº2. Escrita em 1901, durante uma viagem pela Itália e pela Europa Central com sua família, sua segunda sinfonia situa-se num contexto de puro sucesso na vida do compositor, que estreara havia pouco uma de suas obras mais conhecidas: Finlandia. Na sua estréia, a nova sinfonia foi um sucesso de público e o concerto foi repetido quatro vezes.

O primeiro movimento, o mais avançado estilisticamente, é ao mesmo tempo sutil e complexo na sua construção. As variadas melodias, apesar de serem muitas, são relacionadas umas às outras e, o mais interessante, parecem nascer umas das outras. Tanto é assim que a mesma configuração rítmica pulsante nos violinos, presente no início, termina o movimento, mas de uma forma quase que abrupta. O movimento lento, de caráter semelhante a uma rapsódia, começa com uma linha contínua em pizzicato pelos contrabaixos, de onde vem uma tristonha melodia dos fagotes. Em determinado momento neste movimento, o andamento acelera em direção a uma passagem apoteótica dos metais. O 3º movimento, um scherzo vivacíssimo, é mais conciso. Segue-se um Trio (Lento), marcado por uma singular melodia executada pelo oboé. O scherzo é repetido assim como o Trio, só que desta vez conduz de forma arrebatadora para o finale, o último movimento, que é marcado por longas tentativas modulatórias e por uma incrível tensão que conduz a um enérgico final caracterizado pela explosão sonora dos metais.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

5 de junho de 2007

Regente: Carlos Eduardo Moreno

J.Rodrigo - Concierto de Aranjuez

Nascido em Sagunto, Valencia, Joaquín Rodrigo (1901 – 1999) tornou-se deficiente visual em conseqüência de grave enfermidade aos 3 anos de idade. Isso, segundo ele, o levou para a vida musical ainda mais precocemente. Ele é considerado um dos maiores responsáveis pela divulgação do violão clássico como instrumento solista, apesar de ter sido um pianista virtuose no seu tempo. O Concierto de Aranjuez tornou-se a obra mais reverenciada, para violão e orquestra, composta no século XX. O contexto que cerca sua composição se situa exatamente no período da Guerra Civil Espanhola, que dizimou milhares de pessoas naquele país. Naquela época, Rodrigo e sua mulher, Victoria, tinham fixado residência em Paris – passaram muitas dificuldades, mas a obra foi escrita. Entretanto, em 1939 já puderam voltar para Espanha e, em 1840, foi estreado, em Barcelona, este concerto que foi escrito em homenagem aos vastos jardins de Aranjuez, que fazem parte de um palácio de verão, pertencente aos Reis Bourbon da Espanha. Rodrigo descreveu seu concerto como a captação “da fragrância das magnólias, o cantar dos pássaros e o jorrar dos chafarizes (...)”, as belezas que um homem cego, porém intelectualmente dotado, poderiam apreciar.

O movimento que abre a música, Allegro con spirito, é baseada em danças típicas como o fandango. Tem como característica marcante a alternância rítmica, e ainda mais, o contraste do tema pelo violão e os violinos. A abertura demonstra a habilidade de Rodrigo de equilibrar o som menos potente do violão contra uma orquestra, que nunca se sobrepõe sonoramente ao solista. Este usa técnicas do flamenco, assim como punteados e rasgueados. O auge do movimento se dá com um movido fandango, e então o violão fecha o movimento num suave final. O segundo movimento, o mais conhecido, é marcado pelo diálogo entre o violão e o corne-inglês, com o tema baseado na saeta, uma oração andaluza cantada durante a semana santa, apesar de se referir também à morte do primogênito do compositor. Apesar de uma extensa cadenza e um apaixonado clímax, o movimento acaba de forma reflexiva. O finale é uma engenhosa combinação de sonoridade barroca com melodias folclóricas de caráter dançante, e após uma grande apresentação final, o concerto acaba delicadamente.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

5 de junho de 2007

Solista: Daniel Wolff

Regente: Carlos Eduardo Moreno

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Enescu - Rapsódia Romena op.11 nº1

A figura de George Enescu (1881 – 1955) e sua atuação como compositor, virtuose do violino, professor (entre seus alunos, está o lendário Yehudi Menuhin) e maestro marca o começo de um brilhante período de desenvolvimento da música nacional da Romênia. Nascido poucos meses após a proclamação da independência do Reino da Romênia, ele pertence à geração de Schoenberg, Bartók, Stravinsky, Ravel e De Falla. Como músico romeno mais respeitado de todos os tempos, tanto a orquestra de sua cidade natal quanto a principal orquestra nacional levam o seu nome. O compositor romeno estudou durante sua juventude no Conservatório de Viena, mas foi quando morou em Paris que o romeno teve um campo fértil para desenvolver seu estilo pessoal de composição.

As primeiras composições correspondem aos primeiros anos de estudo em Paris e tanto seu op.1, a Suíte sinfônica para orquestra “Poème Roumain” como, em especial, as duas Rapsódias Romenas, op.11, foram suficientes para dar a Enescu fama como compositor num piscar de olhos. Segundo Hartmut Becker, sua ópera Oedipe, de 1936, é reconhecida como sua obra-prima, porém é praticamente desconhecida para o público de hoje. Ele também compôs sinfonias, obras concertantes e um bom número de música de câmara; mas nenhuma dessas obras alcançou tamanha popularidade quanto a sua Rapsódia Romena nº1 que, desde aquele tempo, tem um lugar de destaque no repertório internacional de concerto.

Esta obra rica de luminosidade, junto com a outra Rapsódia, introspectiva e menos conhecida, foram ambas compostas quando Enescu tinha 20 anos. No ano seguinte, ele estreou as duas Rapsódias juntas em Bucareste, como partes constituintes de seu op.11. Ambas são compostas a partir de autênticas canções folclóricas romenas. Porém a primeira tem um caráter mais expansivo, acessível, além de ser caracterizada pelo seu espírito enérgico e leve, com várias seções. Uma dica aos ouvintes da OSPA: procurem ouvir as sonatas para violino e piano desse notável compositor.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

22 de Maio de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

F.Liszt - Poema Sinfônico nº3 "Les Preludes"

O período em Weimar (1848 – 1858) a serviço do Grão-duque fez com que Liszt, além de virtuose do piano, passasse a ser virtuose de orquestra e, assim como Hector Berlioz em suas sinfonias programáticas – Symphonie fantastique, Romeu e Julieta, Harold na Itália – o compositor húngaro passou a defender o ideal de “uma renovação na música por meio de uma ligação mais íntima com a poesia”, ou seja, o “poema sinfônico”.

Les Preludes originalmente foi idealizada para ser a introdução a uma cantata que Liszt escreveu em 1844. No entanto, o título não se refere ao prelúdio àquela obra, mas sim ao poema “Les Preludes”, parte das Meditations Poethiques do poeta romântico francês Alphonse de Lamartine. Porém, Liszt escreveu um prefácio na partitura, um parágrafo:

“Que mais é nossa vida senão uma série de prelúdios a esse canto desconhecido, cuja primeira nota solene é a morte que entoa? O amor é a alvorada encantada de toda existência; mas quem é bem-afortunado o bastante para não ter seus primeiros deleites de felicidade interrompidos por alguma tempestade da vida, a explosão mortal na qual se dissipam as ilusões do amor, (...)”

Isso quer dizer que a música é a expressão de vários estados de espírito, de uma natureza apaixonada e radical, uma combinação que refletia muito bem a personalidade do próprio Liszt, segundo o britânico Peter Brien. A obra compreende somente um movimento, que começa com uma lenta introdução ao primeiro e principal tema da música. Segue-se a isso, em contraste, um tema de “amor”, após o qual as “tempestades da vida” aparecem com impetuosa força e violência. Logo após, há uma seção mais calma, porém breve, que precede ao retorno da energia anterior numa triunfante conclusão de caráter marcial.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

22 de Maio de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

quarta-feira, 16 de maio de 2007

F.Liszt - Concerto para Piano e Orquestra nº1, em Mi bemol Maior

Em seus anos de longa experimentação virtuosística, Franz Liszt (1811 – 1886) criou novas técnicas para tocar piano, por um lado, baseado na magia do virtuosismo acrobático de Paganini ao violino e, por outro, no desejo obsessivo de produzir efeitos sinfônicos ao piano. Os primeiros esboços deste concerto chegam a 1830, termina uma versão adiantada em 1849, e revisa pelo menos duas vezes até sua publicação em 1857.

Escrito numa época em que o compositor voltara-se mais para a composição orquestral a partir de uma idéia poética, encontram-se aqui os traços mais marcantes de suas realizações musicais, a técnica pianística unida com o espírito do poema sinfônico. Além disso, Liszt toma de Hector Berlioz um recurso pioneiro (Berlioz regeu Liszt ao piano na estréia deste concerto no ano de 1855, em Weimar): a ligação associativa de temas por meio de uma idéia fixa recorrente para unir todos os movimentos, procedimento que Beethoven já usara.

A principal idéia do primeiro tema recorre de modo a dominar o ambiente musical do concerto como um todo. Trata-se de um tema heróico, grandioso com as cordas em uníssono pontuadas com uma resposta dos sopros, até que o piano assume o controle, numa seqüência ascendente de saltos de oitava, e logo executa uma cadenza. Um segundo tema, melancolicamente lírico surge, porém logo em seguida, a idéia principal do início prevalece e é conduzida com algumas variações até um suave final deste Allegro maestoso. O segundo movimento, Quasi adagio, assume um caráter meditativo, caracterizado por um longo solo do piano, e mais tarde quando a orquestra retorna, uma seção mais rápida e apaixonada é sucedida por uma passagem de caráter contemplativo e, de forma surpreendente, conduz sem paradas a um espirituoso scherzo, salientado pelo mordaz triângulo. Segundo Helmut Rhom, é nesse movimento (Allegretto vivace - Allegro animatto) que Liszt expande o concerto em sua forma usual de três movimentos, aplicando o conceito de “concerto sinfônico”. O quarto movimento, Allegro marziale animatto, é uma recapitulação rápida de todos os motivos usados no concerto, com a idéia principal do 1º movimento concluindo a obra de forma arrebatadora.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

22 de Maio de 2007

Solista: Josias Matschulat
Regente: Manfredo Schmiedt

J.Brahms - Dança Húngara nº5 em sol menor

O alemão Johannes Brahms (1833 – 1897) e seus contemporâneos vienenses apreciavam muitíssimo a música cigana, que já era bastante urbanizada na época, bem diferente da música coletada por Béla Bartók mais tarde nos lugares mais remotos da Hungria. Na Viena da metade do século XIX, ploriferavam conjuntos ciganos itinerantes fixando residência nas praças e tavernas de Viena, tocando sua música melancólica, porém soberbamente espirituosa. Brahms, um grande admirador da música húngara, teve um de seus primeiros contatos com esse tipo de música ainda jovem, aos 19 anos, quando acompanhou ao piano o violinista húngaro Ede Reményi numa tournê.

Vê-se diretamente tal influência nas Danças Húngaras. Elas formam um conjunto de 21 Danças, originalmente para piano a quatro mãos, com a maioria de seus temas musicais baseados em canções ciganas da época. Desde que foram publicadas, em 1869, até os dias de hoje, as Danças Húngaras gozam de grande popularidade, chegando a ser usadas em cenas de cinema. Naquele tempo, elas não somente se tornaram referência dentro daquele estilo de música que estava na moda, mas também eram tidas como acessíveis para a grande maioria dos pianistas não-profissionais. Com tamanho sucesso, nada mais natural que fossem adaptadas para diversos tipos de conjunto – o próprio Brahms orquestrou as danças nº1, 3 e 10. Atualmente, todas estão orquestradas por diversos compositores – até seu amigo, o compositor tcheco Antonín Dvořák, orquestrou algumas danças.

Originalmente, a Dança Húngara nº5, para piano a quatro mãos, foi escrita na tonalidade de Fá sustenido menor. Na versão orquestral aparece em sol menor. Sem dúvida, é a mais popular de todo o conjunto das danças. É baseada numa melodia de violino, ardente, melancólica, porém ao mesmo tempo jocosa, refletindo o caráter cigano da obra. Uma seção intermediária, com rica percussão a início, muda o caráter da peça, com as cordas num som expansivo. Logo em seguida, o tema inicial retorna e a orquestra acaba a peça brilhantemente e de forma decisiva.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob


22 de Maio de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

terça-feira, 15 de maio de 2007

Ludwig van Beethoven - Missa em Dó Maior, op.86

Em 1807, Beethoven passava por um período bastante produtivo. Havia composto seu Concerto para Violino, a Sonata “Appassionata” para piano, os quartetos de cordas “Razumovsky” e trabalhava na 5ª sinfonia. Foi nesse período bem-sucedido que recebeu uma encomenda do Príncipe Nikolaus Esterházy II que, como todo 13 de setembro, homenageava sua mulher com uma missa especialmente composta para celebrar seu santo patrono. Apesar de encomendas desse tipo geralmente serem bem-vindas, Beethoven deve ter se sentido pressionado, pois Joseph Haydn havia composto nada menos que seis missas, verdadeiras obras-primas, em anos anteriores para essa mesma ocasião. Como se não bastasse isso, Beethoven nunca tinha composto uma missa antes. No entanto, ele cumpriu o contrato, e apesar de ser mal-recebida pelo Príncipe Esterházy (segundo o teórico e pianista Charles Rosen foi seu fracasso mais humilhante), Beethoven não desacreditou na qualidade dela, que mais tarde foi bem-recebida em Viena.

A obra é dividida segundo as cinco partes da missa cíclica – Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus/Benedictus e Agnus Dei – e destaca-se pela mudança súbita de dinâmica e dramaticidade características de suas obras posteriores, podendo ser notadas especialmente nos momentos de profundo júbilo e angústia. No Kyrie, a ausência das flautas, trompetes e tímpanos confere introspecção ao colorido orquestral, ao som dos pedidos de piedade ao Senhor e a Jesus Cristo. O Gloria entra triunfante, com um exuberante colorido e textura orquestral, porém o caráter logo fica sombrio e introspectivo na parte Qui tollis peccata mundi (tirai os pecados do mundo!), mas termina com o mesmo caráter alegre da abertura, numa espirituosa passagem imitativa Cum sancto spiritu. Um exemplo de “personalização” do texto da missa se dá no início do Credo com o coro proclamando esta palavra quatro vezes cada vez mais veemente até uma explosão musical, e pode-se ver uma descrição do significado das palavras nesse movimento, que também contém a descrição de parte da Paixão. Sanctus começa num caráter reverente, descrevendo a santidade do Senhor. Já sua continuação, Benedictus, como é comum, é a hora em que o quarteto vocal solista se sobressai, com o coro repetindo com variações sobre um refrão homofônico. No Agnus Dei, destaca-se um momento particularmente dramático em que o coro, como uma congregação de penitentes, roga Miserere nobis. Beethoven reintroduz a melodia lírica inicial do Kyrie para assim ligar os temas de perdão e paz, levando a obra a um doce e terno final.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

15 de Maio de 2007

Solistas: Elisa Machado (Soprano), Ângela Diel (Mezzo-soprano), Eduardo Bighelini (tenor), Daniel Germano (barítono).

Regente: Manfredo Schimiedt

Ludwig van Beethoven - Egmont (Abertura), op.84

Beethoven (1770 – 1827) durante toda sua vida defendeu o conceito de liberdade individual, tanto que sua obra pode ser considerada um ponto de referência para a liberdade de criação. Seguindo os passos de Mozart e Haydn, sua música expandiu formas, harmonia e instrumentação em função da expressão dum modo inovador.

Quando Beethoven, em 1809, recebeu uma encomenda para escrever música programática para a peça Egmont, de Goethe – escritor a quem Beethoven tinha profunda admiração –, que seria reapresentada em Viena no ano seguinte, o compositor a aceitou de pronto. A música incorpora a convicção de Egmont e de Beethoven de que a morte não é um fim quando esperança e ideais permanecem intactos. Egmont conta a história da perseguição espanhola ao povo dos Países Baixos durante a Inquisição, nos anos 1567-68. Conde Egmont é a princípio leal aos espanhóis, porém se sente incomodado quando vê as injustiças cometidas por eles e pede tolerância por parte do Rei espanhol. No entanto, o Rei manda o cruel Duque de Alba para comandar as forças espanholas naquele território e, assim, Conde Egmont é preso e sentenciado à morte. Porém, sua morte como mártir servirá mais tarde como impulso decisivo para a rebelião. Egmont, de Beethoven, consiste num conjunto composto pela abertura e mais nove peças para voz e para orquestra, que narram a história acima. Porém, a abertura em particular, segundo a Dra. Beth Flemings, destaca-se hoje em dia nas salas de concerto por causa de sua força, sua nobreza e seu caráter triunfante.

Com início sombrio, comunica profunda opressão de espírito, com seu motivo inicial representando o tirano da peça. A seguir, o andamento aumenta, recaindo num Allegro vivaz conduzido pelos cellos; e ouve-se à confiança e à contestação do herói Egmont, no emaranhado da batalha pela liberdade. O tema introdutório é desenvolvido por toda a orquestra, tornando-se mais e mais rítmico e sombrio até se ouvir a morte do herói. A seguir, o caráter da música torna-se festivo e triunfante, as cordas em suas notas mais agudas com o brilho do som do piccolo. A morte não é um fim quando ideais permanecem vivos.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

15 de Maio de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

terça-feira, 8 de maio de 2007

Tchaikovsky - Francesca da Rimini, op.32

Aproximadamente sete séculos após a criação da Divina Comédia, de Dante Alighieri, Piotr Ilyich Tchaikovsky transforma o Canto V da 1ª parte da referida trilogia, Inferno, em música. Esta parte da obra conta a história do sofrimento de Francesca da Polenta e de seu cunhado e amante Paolo Malatesta da Rimini, irmão de Giovanni, marido traído de Francesca. Segundo Dante, Francesca e Paolo ficaram na parte do Inferno destinada aos adúlteros, juntamente com Helena de Tróia, Páris, Cleópatra, Tristão, Isolda, e outros que, em vida, pecaram pelas tempestuosas paixões que sentiam, e assim eram condenados a eternas tormentas no inferno. Tchaikovsky, durante uma viagem de trem entre Alemanha e Rússia, lera um libreto enviado por seu irmão, Modest, pois este ficou sabendo que seu irmão compositor estava ansioso para escrever uma ópera, e sugeriu que tomasse a história de Francesca da Rimini como tema. Porém, o projeto de ópera foi adiado. Conforme o próprio Tchaikovsky escreveu para o seu irmão, ele foi “tomado completamente pelo desejo de escrever um poema sinfônico sobre Francesca”. Pelo que tudo indica, este grandioso poema sinfônico foi feito em Moscou, no outono de 1876, em apenas três semanas. Poema sinfônico quer dizer música programática, música incidental, feita para representar em música certa cronologia de fatos.

Não é diferente aqui, em que a lúgubre seção introdutória pode ser identificada como a passagem de Dante pelo Rio Styx, um dos três rios que faziam a fronteira do tártaro, e através dos portões do submundo (“Abandonai toda esperança, vós que aqui entrais”). A esta cena, segue-se uma furiosa passagem que retrata as ventanias e tormentas do limbo onde os adúlteros ficaram. Em contraste com essa música violenta, a seção central é Francesca da Rimini narrando a história trágica de seu amor por Paolo. Aqui se tem um total tratamento orquestral, constituído de variações livres sobre o tema de Francesca, uma melodia ardente de extremo lirismo. Mas esse idílico interlúdio é cortado abruptamente pela volta dos furacões do inferno, e Francesca da Rimini termina ferozmente com poderosos acordes em toda a orquestra.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

8 de Maio de 2007

Regente: Osman Gioia

Prokofiev - Concerto para Piano e Orquestra nº5, op.55

A história do Concerto para Piano nº5, composto pelo russo Sergei Prokofiev (1891 – 1953), se torna muito interessante, sobretudo se levarmos em conta o que o precede neste mesmo gênero musical. O concerto nº4, para mão esquerda, foi feito para o pianista Paul Wittgenstein, que perdeu seu braço direito na Primeira Guerra Mundial, e que rejeitou tocá-lo, dizendo que não conseguira entender uma nota, e desta forma, o concerto para mão esquerda que Ravel compôs para o mesmo pianista tornou-se mais famoso que o do compositor russo. Após o quarto concerto, Prokofiev decidiu criar algo realmente virtuosístico para piano (com ambas as mãos). Este Concerto para Piano nº5, escrito na Berlim de 1932, foi o último concerto para piano completo do compositor, já que o compositor morreu durante o início da produção de seu sexto concerto.

A obra que ouviremos possui características que a tornam singular, como por exemplo, a estranha estruturação em cinco movimentos, em vez da tradicional forma em três movimentos. Outra curiosidade sobre esta obra de grandes proporções, é a respeito de seu título. Originalmente, Prokofiev a chamou de Música para Piano e Orquestra, porém, foi dissuadido da idéia pelo seu amigo e compositor soviético Nikolai Myaskowsky. A estréia deste concerto se deu em outubro de 1932, com a Filarmônica de Berlim conduzida por Wilhelm Furtwängler, e o próprio Prokofiev ao piano.

A música começa com um Allegro con brio, onde solista e orquestra abrem o concerto tocando simultaneamente. Porém, mais adiante, com uma abrupta interrupção de ambas as partes, uma passagem melódica é guiada pela orquestra, seguido sucessivamente por solos e tutti, mantendo certa homogeneidade no todo. Esse diálogo simultâneo entre piano e orquestra continua no segundo movimento, Moderato ben accentuato, que emana uma certa claridade graças à virtuosidade pianística. O terceiro movimento, Allegro con fuoco, leva consigo desde o início um ritmo crepitante, por estar na forma de uma Toccata. Este movimento central resplandece com suas dissonâncias que fundem todas as partes juntas. Curto e tempestuoso, este movimento logo conduz a uma calmaria quando o Larghetto, calmo e meditativo, aparece. Este quarto movimento, caracterizado pela sua simplicidade orquestral, contém uma grande tensão dramática que será abandonada somente com as primeiras notas do quinto e último movimento. Vivo, dançante e com ritmos acessíveis, este finale, com suas impositivas acentuações, restaura a luminosidade e certo humor à obra.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

8 de Maio de 2007

Solista: Mikhail Rudy

Regente: Osman Gioia

Richard Wagner - Rienzi (Abertura)

O formidável legado artístico de Richard Wagner (1813 – 1883) é composto primariamente pelos seus dramas musicais, destacando-se a ópera “Tristão e Isolda” (1859), que é considerada o ponto de partida para a música do futuro. Portanto, a produção operística desse compositor, um conjunto de quatorze obras, que pode ser dividido em três períodos, constitui um marco na história da música.

Rienzi (1838-40) pertence ao seu primeiro estágio, com o estilo composicional ainda bastante convencional, distante das inovações que colocaram Wagner num lugar de destaque na história da música. Neste período, o jovem compositor dividia suas tarefas também como crítico musical, apesar de que suas duas primeiras óperas foram enormes fracassos de crítica, e ele estava sedento por um sucesso no palco. O começo de um projeto de sua terceira ópera pode ser datado do final de 1837, quando o compositor leu a tradução alemã de “Rienzi, The Last of the Roman Tribunes”, do novelista inglês Sir Edward Bulwer-Lytton. O livro foi baseado na história real de Cola di Rienzi, líder populista da Itália do século XIV, auto-intitulado Tribuna de Roma, que liderou uma revolta que tinha por objetivo derrotar os nobres, elevar o poder popular, e unificar a Itália, tendo por objetivo, assim, restaurar a glória romana de outrora. Rienzi triunfa inicialmente, mas, com o tempo, a opinião popular muda e até a Igreja, que de início dera total apoio, se volta contra ele, e assim ele é assassinado no Capitólio. A história se tornou muito atrativa para Wagner, como ele mesmo disse: “Rienzi, com as grandes idéias em seu cérebro, e sentimentos fortes em seu coração, (...) deixou todos meus nervos emocionados de simpatia e afeição”. Rienzi, com seus cinco atos, foi estreada no Teatro Real de Dresden, em 1842, com um imenso sucesso – apesar de sua inédita duração de 6 horas, por seguir a forma operística em voga na época, a Grand Opera, e que foi mantida no decorrer de sua carreira musical. A recepção entusiástica do público de Rienzi, seu primeiro sucesso, assinalou a reviravolta definitiva na carreira musical de Wagner.

A abertura foi a última parte da ópera a ser concluída, em 1840. Começa com uma introdução lenta que conduz a uma enérgica seção mais rápida. Uma nota sustentada pelo trompete, seguida por uma obscura passagem nos cellos e nos contrabaixos, é repetida por uma segunda chamada do trompete, que conduz a uma passagem coral, serena, realizada pelos sopros. Depois de uma terceira nota do trompete, o caráter sombrio retorna, evocando a sinistra atmosfera de Roma. Por fim, um tema nobre emerge: “Du stärktest mich”, uma súplica de Rienzi, da cena inicial do quinto ato. Uma sinistra passagem cromática nos trombones interrompe essa meditação, mas o tema antes apresentado retorna com toda a orquestra. O triunfal Allegro que segue, é baseado no Hino da Batalha do terceiro ato, Santo spirito cavaliere. Uma coda densa confere o caráter decidido do hino final.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

8 de Maio de 2007

Regente: Osman Gioia

terça-feira, 1 de maio de 2007

J.S.Bach - Suíte Orquestral nº3, BWV 1068

Na complexidade intelectual de suas fugas, e na profundidade espiritual de suas Paixões e Cantatas, J.S. Bach (1685 – 1750) nos dá a impressão concreta de que ele encarna toda a seriedade musical possível. Porém, como bom ser humano, também tinha seu lado leve e humorado, e suas quatro suítes orquestrais são um ótimo exemplo de como ele desenvolveu as formas das danças das cortes de seu tempo com graça e elegância. Apesar das datas de criação serem imprecisas, é provável que elas tenham sido compostas durante ou logo após o período de Cöthen. Porém, a orquestra do Príncipe Leopold era modesta, e definitivamente não poderia prover o suntuoso complemento de três trompetes requisitados para tanto esta terceira suíte, que ouviremos hoje, como para a quarta. Porém, no Collegium Musicum de Leipzig, se ele requeresse três trompetes e tímpanos, eles estavam à sua disposição, devido à variedade de músicos. Com sua esplêndida orquestração, esta grande obra deve ter sido feita para uma ocasião muito festiva.

A Suíte nº3 é uma fusão de duas formas muito populares na época: a Abertura Francesa – usada como entrada de óperas e peças – e a Suíte, baseada nas danças tradicionais das cortes francesas. A Abertura Francesa caracteriza-se por seções lentas externas, que enfatizam impositivos ritmos pontuados, intermediada por uma seção mais rápida e imitativa. Aqui a música tem um aspecto grandioso, com majestosas frases marcadas especialmente pelo brilho dos trompetes junto do tímpano. Goethe descreveu essa parte da peça: “Há tanta pompa e cerimônia, que realmente pode-se ver uma procissão de pessoas vestidas elegantemente descendo uma vasta escadaria”.

O movimento seguinte leva o título de “Air”, termo francês usado durante o tempo de Bach para uma peça instrumental em tempo lento com uma doce e agradável melodia na voz superior. Adaptada para violino solo em 1871, pelo violinista alemão August Wilhelmj, é mais conhecida como “Ária na corda Sol”. A seguir, vem um par de Gavottes, uma dança de moderada animação, que tem como ancestral a música camponesa francesa. A Bourée, também de origem francesa é alegre e tem caráter divertido, e quando dançada, começava-se com um leve salto, que é visto aqui pelo padrão de saltos melódicos feitos pelos violinos juntamente com o oboé. A Gigue, originada no folclore das ilhas britânicas e incorporada por compositores franceses e italianos quando migrou para o continente, é caracteristicamente rápida, alegre e fluida, e é a dança que geralmente encerra animadamente uma suíte.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob


1º de Maio de 2007

Regente: Jocelei Bohrer

J.S.Bach - Concerto para 2 violinos e cordas, BWV 1043

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) absorveu várias influências, entre essas o estilo italiano dos concertos de Vivaldi, chegando a transcrever vários concertos de cordas para teclado. Além disso, sua estruturação em três movimentos (“rápido-lento-rápido”) foi um dos principais elementos trabalhados com um elevado grau de sucesso. Bach apropriou-se dessa forma e a combinou com suas próprias assimilações de outros estilos e técnicas contemporâneas a ele: o trabalho contrapontístico tão divulgado no norte da Europa, as danças das cortes francesas, assim como a vitalidade da melodia italiana. O Concerto em Ré menor para Dois Violinos é um resultado dessas sínteses, além de ser uma das obras instrumentais mais populares de Bach, chegando a ser considerada entre os melhores exemplos de obras barrocas do século XVIII. Escrito em Cöthen, em 1717, mais tarde em 1735, foi transcrito pelo próprio compositor em dó menor no que ficou conhecido como Concerto para dois cravos (ou pianos, atualmente) e cordas, provavelmente para ser tocado no Leipzig Collegium Musicum, do qual ele era o diretor.

As partes dos violinos solo, como um todo, são tratadas como uma dupla melodia, trocando de motivos entre si, usando de um contraponto tão complexo como atrativo, além de estarem sempre envolvidas numa cintilante conversação musical com a orquestra. No primeiro movimento, cheio de uma propulsividade expressiva, encontra-se um exemplo perfeito de tema em ritornello, seguindo a convenção do concerto grosso em que a orquestra alterna entre participação no conjunto e no acompanhamento somente. Esta alternância de solistas – orquestra pode continuar por quanto tempo o compositor desejar. Uma marca do gênio de Bach era seu senso de tempo aliado ao bom gosto – parecia saber instintivamente quanto tempo aqueles movimentos potencialmente infinitos deveriam durar.

O segundo movimento é uma das obras musicais mais intensamente belas já escritas até hoje. Neste movimento, os solistas “flutuam” acima de um simples acompanhamento da orquestra, que, diferentemente do primeiro e terceiro movimentos, agora se restringe a apoiar. Essa transcendente e gentil canção, perpassada de luminosidade, exprime uma contagiante calma e uma ínfima beleza. O senso de drama e urgência, presente no primeiro movimento, retorna agora no finale, provido pela característica energia rítmica de Bach. Esse movimento começa com um cânone, um processo imitativo entre os violinos e que não é de forma alguma esmorecido na continuação, o caráter impulsivo é mantido e cresce energicamente até o final.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob


1º de Maio de 2007

Solistas: Emerson Kretschmer e Márcio Cecconello
Regente: Jocelei Bohrer

J.S.Bach - Concerto de Brandenburgo nº3, BWV 1048

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) teve sua vida musical marcada por três empregos principais: Organista da corte e Diretor de orquestra na corte ducal em Weimar (1708–17); Mestre de capela (Kapellmeister) do Príncipe Leopold, de Anhalt-Cöthen (1717-23); Kantor e Diretor de Música da Igreja Luterana de Santo Tomás, em Leipzig (1723-50). Foi justamente durante o período em Cöthen que quase todas suas obras seculares, ou seja, não-religiosas, foram produzidas (incluindo as três obras que ouviremos hoje). A explicação para isso é que apesar de o próprio Príncipe Leopold de Cöthen ser um músico verdadeiramente amador e um profundo admirador do trabalho de Bach, sua crença calvinista não permitia a música vocal na sua liturgia. Portanto, os anos que Bach passou em Cöthen deram-lhe a oportunidade de desenvolver e aperfeiçoar sua escrita instrumental, particularmente à maneira do “grande” concerto que veio da Itália, o concerto grosso.

Os seis Concertos de Brandenburgo foram dedicados ao Margrave (Marquês) Christian Ludwig de Brandenburg-Schwedt, em 1721. Individualmente, é difícil definir a data de composição de cada uma dessas obras, justamente porque só há essa data da dedicatória de toda a coletânea, mas acredita-se que a maioria foi escrita logo nos primeiros anos vividos por Bach em Cöthen visto que a instrumentação coincide com a disponibilidade de músicos naquela corte. Sem dúvida, esses concertos são verdadeiras obras-primas de orquestração e merecidamente, umas das obras de Bach mais amadas pelo público, devido à variedade de cores e timbres. Porém, enquanto os concertos nº1, 2, 4 e 5 são tipicamente concerti grossi (um grupo de solistas – concertino – dialogando com o restante da orquestra – ripieno – numa textura de baixo contínuo), este concerto se caracteriza por ter grupos timbrísticos equilibrados dialogando entre si. Foi escrito para três violinos, três violas, três cellos mais a sustentação do baixo contínuo (contrabaixo e cravo). No primeiro movimento, o ritornello projeta um elemento rítmico por todas as vozes com muita pompa e elegância. A conversação entre os instrumentos sempre volta com o tema tratado de diversas maneiras, demonstrando a genialidade do compositor. O segundo movimento é composto de apenas dois acordes. A hipótese mais provável é que esses dois acordes devem servir de base para uma cadenza realizada pelo cravo. O terceiro movimento provém de uma peça para órgão do próprio compositor, intitulada Pastorale. É uma dança dividida em duas partes, uma Gigue, ou seja, de caráter imitativo e rápido a exigir uma considerável virtuosidade dos executantes.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

1 de Maio de 2007

Regente: Jocelei Bohrer

domingo, 22 de abril de 2007

Albert Roussel - Sinfonia nº3 em sol menor, op.42

Considerada a obra-prima deste compositor francês, a Sinfonia em Sol menor foi composta em 1929-30, encomendada por Serge Koussevitsky nas celebrações dos 50 anos da Orquestra Sinfônica de Boston. Albert Roussel (1869 – 1937) iniciou tardiamente sua carreira, na sua juventude serviu na marinha francesa. Sua obra, no entanto, é extensa e conta com ballets, suítes orquestrais, quatro sinfonias, música de câmara, e até mesmo um concerto para piano. A estréia da sinfonia contou com a presença do próprio compositor que empreendeu sua única viagem à América. A obra foi aclamada pela crítica e admirada por compositores como Poulenc e Prokofiev, além de Lutoslawski a considerar uma das quarenta melhores peças do repertório erudito.

Logo no início da música, o compositor utiliza um recurso já usado por Beethoven, que é o de “chamar a atenção do público”, pela característica fabulosa da abertura. A vitalidade rítmica da sinfonia é contrabalanceada por um gentil e singular lirismo característico do compositor. A obra, portanto, contagia de uma forma bastante positiva o ouvinte. Atente para um tema de cinco notas presente no primeiro, no segundo e no quarto movimento.

Após o vigor do primeiro movimento, o segundo opera uma mudança radical no ritmo e no clima. O Adagio, o movimento mais longo, contém melodias arrebatadoras e uma deliciosa seção rápida. Já o ponto culminante deste movimento evoca claras e poderosas emoções antes de voltar-se para um mundo de paz e harmonia.

O terceiro movimento, um scherzo, talvez seja o movimento mais acessível, com elementos de dança e os fortes ritmos característicos. Provavelmente, é o scherzo mais bem-sucedido composto por Roussel, extremamente leve e alegre, porém não apelando para a vulgaridade e inconseqüência. O finale, Allegro con spirito, mantém o bom humor com clareza melódica e ritmos marcantes; o retorno do tema que se faz presente tanto no primeiro quanto no segundo movimento finaliza essa bela obra sinfônica.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Regente: Nicolas Rauss

Jean Sibelius - Concerto para Violino e Orquestra em Ré menor, op.47

Este é o único Concerto de Jean Sibelius (1865 – 1957) para instrumento solista e orquestra, o compositor finlandês deixou apenas outras peças menores para violino e orquestra, como Serenatas e Humoresques. Ela destaca-se das demais obras do compositor justamente por isso e pelo seu tom especial e fantástico, integrando a literatura de concertos como obra consagrada para violino e orquestra juntamente com os concertos de Beethoven, Mendelssohn, Brahms e Tchaikovsky. A primeira versão, de 1903, não agradou nem ao público nem ao compositor, apresentava-se mais complexa, mais desunida, além de ser também ainda mais difícil tecnicamente. Buscando um equilíbrio de expressividade maior na sua forma geral, Sibelius revisou e atingiu um resultado que é magnífico. Esta versão final, que veremos hoje, foi estreada em Outubro de 1905, em Berlim, sob a batuta de Richard Strauss. Conforme consta no Centro de Informações de Música Finlandesa, neste Concerto para Violino, Sibelius conseguiu fundir admiravelmente a continuidade sinfônica desejada com uma extrema complexidade técnica, não havendo nada de superficial na virtuosidade da peça. Tudo se faz necessário, até mesmo a cadenza no primeiro movimento, que além de ser uma amostra de virtuosismo, faz também parte essencial da estrutura geral, sendo o grandioso clímax do desenvolvimento do primeiro movimento. Com certeza, a escrita violinística deste concerto exige um solista com habilidades técnicas superiores, mas ao mesmo tempo, o compositor soube explorar todo o inesgotável potencial lírico e melódico do violino.

O concerto começa com algo místico, as cordas pulsando levemente, e então, o violino apresenta uma idéia simples, doce e expressiva. A clarineta repete o tema, e logo após vemos a genialidade de Jean Sibelius, no que se refere ao ambiente harmônico estabelecido. Então um segundo tema apaixonado é dado pela orquestra, seguido do solista, extraindo tudo o que se consegue de expressividade e lirismo do instrumento numa região aguda do mesmo. Ao final do movimento orquestra e o solista retomam simultaneamente todos os temas já expostos anteriormente em uma finalização apoteótica.

Já o segundo movimento, Adagio Di Molto, estabelece um contraste gritante entre os outros dois movimentos. Melodioso, o compositor desenvolve todo o potencial lírico do violino. Uma breve introdução da orquestra deixa o caminho aberto para um solo que lembra uma canção, incrivelmente bela e tocante, acompanhado pela orquestra. É nesse movimento que Sibelius expressa em música toda sua capacidade expressiva, e carga emocional.

Seu movimento final é uma dança que leva a virtuosidade da peça ao seu clímax. Cabe ao violino o anúncio da primeira idéia, a orquestra replica com uma segunda que retomado pelo violino varia o tema, com arpejos, acordes, escalas em harmônicos, até que chega ao ponto em que o solista fica tão ocupado com suas passagens virtuosísticas, que a orquestra toma a dianteira, e conduz a um final extremamente brilhante, com o violino numa nota agudíssima e a orquestra terminando em um esplendoroso uníssono.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Solista: Daniel Guedes

Regente: Nicolas Rauss

Jean Sibelius - Finlandia, op.26

Por volta de 1898, Jean Sibelius passava por um momento em que ele não estava satisfeito com a resposta do público na época, ou com o que ele achava que deveria ser uma resposta satisfatória à sua obra. Apesar de que ele já tinha começado a receber a generosa ajuda financeira anual provinda do governo finlandês, e que o sustentaria ao longo de sua vida, ele era muito sensível a respeito da vontade e, obviamente, da habilidade do público de acompanhar a evolução de sua linguagem musical. Ele expressou esse sentimento em seu diário, em Setembro de 1898: “Quão disposto estaria eu a sacrificar parte da ajuda financeira que tenho recebido em troca de entendimento e simpatia à minha arte – se alguém amasse meu trabalho.”.

Essas palavras parecem para nós tão incoerentes, especialmente devido à rapidez que essa situação mudou. A estréia de sua 1ª sinfonia, em Abril de 1899, foi tão bem sucedida, que foi a obra principal da Tour Européia da virada do século, realizada pela Filarmônica de Helsinque, e com esse sucesso, Sibelius foi comissionado a escrever música para uma série de quadros a respeito da história finlandesa. Ou seja, a obra que ouviremos se caracteriza como um Poema Sinfônico, pois retrata passo por passo uma determinada história, como se fosse uma trilha sonora, no caso, de antigas histórias finlandesas. Originalmente chamada “Finlândia Acorda”, ficou conhecida simplesmente como Finlandia, e foi usada num movimento para mobilizar o povo a opor-se contra a revogação da autonomia finlandesa pelo governo do Império Russo (na época se chamava Grande Ducado da Finlândia). Portanto, podemos afirmar que foi justamente esta música que colocou, e coloca até os dias de hoje, Sibelius como “o compositor finlandês”. A mensagem que esta grandiosa obra transmite é poderosa. Tanto é assim, que a história conta que foi tocada para soldados finlandeses antes de batalhas na guerra contra a Rússia. Porém, enquanto não há nada de errado com a figura de Sibelius como um autêntico nacionalista finlandês em si mesmo, é um pouco desapontador descobrir que na verdade seus pais eram suecos e ele só aprendeu a língua finlandesa quando já era adulto, apesar de ter nascido e sempre vivido na Finlândia.

Boa parte da peça é composta de música vibrante e turbulenta, evocando desta forma a bravura inerente ao povo finlandês. Porém, no final, uma calmaria sobrevém à orquestra e a serena melodia do Hino Finlandês é ouvida. É muito comum afirmar erroneamente que esta passagem é uma melodia folclórica finlandesa, porém ela é da própria autoria de Sibelius. Mais tarde, ele remodelou o “Finlandia-hymni” como uma única peça, cuja letra foi escrita em 1941 pelo escritor e poeta finlandês Veikko Antero Koskenniemi.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Regente: Nicolas Rauss

sábado, 21 de abril de 2007

Saint-Säens - Concerto para Piano e Orquestra nº2 em sol menor

Composta em 1868, aos 33 anos do compositor, é provavelmente o seu Concerto para Piano mais popular. Estruturado em três movimentos, em vez de seguir o esquema “Rápido-Lento-Rápido”, denota uma modificação, o primeiro movimento lento, e o segundo um “Allegro Scherzando”.

O piano arrebata o ouvinte desde o início ao apresentar uma longa introdução improvisacional que evoca bastante o barroco, por causa da influência que Saint-Säens estava tendo na época, de Liszt, que estava transcrevendo para piano solo várias obras de Bach para Órgão. Após a apresentação de um primeiro e melancólico tema baseado em um esboço abandonado, de autoria de seu pupilo, Gabriel Fauré, um breve segundo tema é apresentado, seguido de uma série de passagens que conduzem de forma estonteante à reexposição do tema em elevada intensidade sonora. Logo em seguida, é dada ao solista uma longa “cadenza”, oportunidade ímpar para revelar toda sua capacidade de expressividade além de virtuosismo.

O segundo movimento, o mais famoso dos três, é em Mi bemol Maior, e em vez do típico “Adagio” é um leve e gracioso Scherzo. A personalidade energética e ao mesmo tempo delicada deste movimento é uma característica do bom-humor musical de Saint-Säens, mais famoso em seu “Carnaval dos Animais”.

No último movimento reafirma-se a tonalidade de Sol menor, articulado por uma tarantella prolongada. Em uma velocidade alucinante, orquestra e solista apressam-se tumultuosamente, ganhando volume e terminando numa explosão de arpejos em sol menor.

Em sua estréia, na sala Pleyel, este Concerto foi regido pelo lendário Anton Rubinstein, e tocada pelo próprio Saint-Säens, que apesar de gozar de excelente fama como pianista, não o tocou muito bem, pois o compôs em três semanas e não teve tempo para estudar o suficiente, o que fez com que a peça não fosse de início um sucesso.


Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

3 de Abril de 2007


Solista: Olinda Alessandrini

Regente: Isaac Karabtchevsky