terça-feira, 10 de julho de 2007

W.A.Mozart - Sinfonia Concertante, K364, em Mi bemol Maior

No meio de uma surpreendente coleção de 27 Concertos para piano, 5 concertos para violino e para trompa, além de concertos solos para flauta, oboé, clarinete e fagote, Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) escreveu sete obras para dois ou mais instrumentos solistas e orquestra, quase todos compostos em 1778 e 1779. Juntamente com o Concertone para dois violinos e orquestra, K 187e, há uma Sinfonia Concertante, K297b, para quatro instrumentos de sopro e orquestra, cuja autenticidade é questionável, o Concerto para Flauta e Harpa, K297c, o Concerto para Dois Pianos, K316a, e a obra que ouviremos hoje, que é geralmente considerada como a composição mais significativa dele composta no ano de 1779.

Mozart era certamente um excelente violinista, mas na verdade ele preferia tocar viola quando tocava em conjunto de música de câmara. Mozart compôs esta Sinfonia Concertante provavelmente com a intenção de ficar com a parte da viola para si. A obra contém duas particularidades interessantes: Primeiramente, o naipe das violas na orquestra é dividido em duas partes (assim como o naipe dos violinos é dividido em 1º e 2º violinos), presenteando a obra com uma sonoridade orquestral mais rica no registro médio. Além disso, Mozart na verdade escreveu a partitura da viola solista em Ré Maior, instruindo o solista a afinar o seu instrumento um meio-tom acima, para assim soar Mi bemol Maior. Este estratagema, bem conhecido entre os instrumentistas de cordas, confere um maior brilho e permite que a viola possa competir de igual para igual com o brilhantismo inato do violino.

A Sinfonia Concertante segue o padrão de concerto em três movimentos. Um pomposo Allegro maestoso de abertura é seguidos por um Andante que nos remete a um dueto de amor presente em suas óperas. As cadências em ambos os movimentos são de autoria do próprio Mozart. O Presto final conclui a obra em um elevado estado de espírito.


Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

10 de Julho de 2007

Solistas: Emerson Kretschmer (Violino)

Vladimir Romanov (Viola)

Regente: Manfredo Schmiedt

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ludwig van Beethoven - Sinfonia nº5, em dó menor


A Sinfonia nº5 é uma das obras-primas de Beethoven, disputando em popularidade com a sua 9ª sinfonia. Não é para menos, pois o esforço empregado em ambas as sinfonias foi descomunal. A estréia (première) desta grandiosa sinfonia foi em Viena, no final de 1808, no Teatro “An der Wien”, num concerto com uma duração de mais de 4 horas somente de grandes estréias do compositor, como o Concerto para Piano nº4, a Sinfonia nº6 “Pastoral” e a Fantasia Coral op.80, para Piano, Orquestra e Coro, (que foi um exercício composicional para a 9ª sinfonia, que no quarto e último movimento utiliza uma inovação inédita até ali em termo de sinfonia, um Coral!) entre outras peças executadas e regidas pelo próprio Beethoven. Porém, há anotações a respeito desta Quinta sinfonia que datam do ano de 1800 e 1801. Ele retoma a produção em 1804 e vai até 1807, paralelamente à produção da sua ópera “Fidélio” e do 4º Concerto para piano e orquestra. Nessa época, o compositor lutava por uma forma ideal para o tema de abertura: a tonalidade escolhida para esta sinfonia era a preferida de Beethoven, Dó menor, e o segundo e terceiro movimentos já estavam praticamente delineados quanto à sua formação. Pois é justamente no 1º movimento (Allegro com brio) que se apresenta a “Forma Sonata”, sem a qual não existe sinfonia e é nesse movimento que geralmente abriga as mais importantes idéias da obra integral, sendo por isso reconhecido como sua base mestra. Um dos princípios que regem o sucesso de uma música desse tipo é o potencial de “metamorfose” do tema inicial, justamente porque dele depende todo o resto. Pode-se dizer que Beethoven foi bem sucedido, pois não há quem não reconheça hoje este tema enérgico tão simples, porém tão cheio de possibilidades inerentes e que faz com que a obra seja tão poderosamente reconhecida. O segundo movimento transforma o clima em algo melancólico, com uma melodia inicial poética nas cordas, que culmina com a orquestra toda em um fortíssimo junto com uma “coda”. O terceiro e quarto movimentos ligam-se entre si através de um surpreendente “crescendo”. O terceiro consiste de um Scherzo e Trio contrastantes, iniciando nos violoncelos e nos contrabaixos, cria-se uma imensa expectativa até que a orquestra cresce em intensidade e então começa a triunfante marcha de abertura do impressionante e inovador último movimento, que é onde Beethoven mostra as suas garras em termos musicais, terminando de forma magistral e surpreendente!
















Nesta edição francesa de 1809, ainda pode-se ver a dedicatória que Beethoven fez dessa sinfonia a seus patronos, a quem ele os admirava muitíssimo, Príncipe Lobkowitz e Conde Rasumovsky.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

10 de Julho de 2007

Regente: Manfredo Schmiedt

terça-feira, 3 de julho de 2007

D.Shostakovich - Abertura Festiva, op.96

Apesar do reconhecimento em âmbito mundial de Dmitri Dmitrievich Shostakovich (1906 – 1975), ele está indissociavelmente ligado ao desenvolvimento político-cultural da extinta União Soviética, sob o governo de Stalin. Shostakovich era conhecido por seu característico nervosismo e ansiedade, e tinha razão para isso, pois se a opinião cultural do Partido não estivesse favorável à sua música, não importa quão receptivo o público fosse, ele poderia simplesmente desaparecer, assim como aconteceu, em 1948, com seu amigo próximo, o ator Solomon Mikhoels. Shostakovich vivia constantemente com medo que a mesma coisa ocorresse com ele.

A criação da Abertura Festiva é uma daquelas fantásticas histórias que se assemelham a lendas, e que revela a verdadeira natureza do gênio de um compositor. Seu amigo Lev Lebedinsky foi testemunha ocular disto e relatou que, quando ele estava no apartamento do compositor num certo dia durante o outono de 1954, eles receberam a visita do maestro da Orquestra do Teatro Bolshoi. Devido a misteriosas manobras políticas e confusões burocráticas, a orquestra precisava de uma nova música para celebrar o aniversário da Revolução de Outubro, e o concerto seria dali três dias. Simplesmente, Shostakovich sentou-se e começou a compor. Lebedinsky relata: “A velocidade com que escrevia era simplesmente estarrecedora. Além disso, enquanto escrevia música ele podia muito bem falar, fazer piadas e compor simultaneamente, como o lendário Mozart. Ele ria e se divertia, e enquanto isso a obra estava a caminho, a música sendo escrita com impressionante facilidade”. Não há nenhum sinal de pressa ou precipitação na vibrante Abertura Festiva. Ao contrário, nota-se claramente o bom humor do compositor enquanto a escrevia.

Aliás, Shostakovich, com seus nervos frágeis, regeu uma orquestra apenas em uma ocasião, num concerto organizado pelo seu amigo Mstislav Rostropovich, em 1962. E ele, por coincidência, começou o concerto com sua Abertura Festiva.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

3 de Julho de 2007

Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)

I.Jevtic - Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra

Ivan Jevtic nasceu há 60 anos em Belgrado, na antiga Iugoslávia, mas seu brilhante Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra tem muito de brasileiro - e mais ainda de Gaúcho. Portanto, não é uma coincidência que, neste noite, a Sinfônica de Porto Alegre esteja fazendo a estréia desta obra no Brasil.

No final da década passada o compositor Sérvio viveu em Pelotas, onde lecionava música no conservatório da Universidade Federal. Escreveu este concerto na primavera de 1998, mesclando a saudade de sua terra natal com a influência rítmica que o Brasil exercia sobre ele. O próprio Jevtic revela que aquele foi um dos períodos mais ricos de sua criatividade de produção musical.

Na época, a Sérvia era combalida por sangrentos bombardeios durante a Guerra do Kosovo - o mais recente capítulo do violento processo de dissolução da Iugoslávia. O autor expressa no segundo movimento, Allegro giusto, que a obra passeia por ritmos até então pouco explorados pelo compositor, extravasando identificação e admiração pelo Brasil.

Antes de compor o Concerto para Trompete, Trombone e Orquestra, Jevtic já havia escrito outra obra em solo gaúcho: o Divertimento para Dois Violoncelos e Orquestra de Cordas, de 1997. Sua forte relação com o Rio Grande do Sul ainda resultou na Abertura Solene para Orquestra Sinfônica - que, embora composta no Exterior, foi dedicada ao maestro da OSPA Manfredo Schmiedt.

Depois de conquistar grande aceitação entre os povos balcânicos, Jevtic vem dedicando aos gaúchos parte de sua história. Incontestável motivo de orgulho.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

3 de Julho de 2007

Solistas: Flávio Gabriel (Trompete)
José Milton Leite Filho (Trombone)
Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)

D.Shostakovich - Sinfonia nº1, op.10, em fá menor

Dmitri Dmitrievich Shostakovich (1906 – 1975) escreveu um total de 15 sinfonias, sendo que a primeira, apresentada hoje, data de 1925, e a última foi concluída em 1971. A Sinfonia nº1 foi escrita com o propósito de ser seu trabalho de encerramento no Conservatório onde Shostakovich, na época com 20 anos, estudava; logo ficou claro que ela extrapolava essa tarefa. Sua estrutura surpreende através do estranho cruzamento e até mesmo evasões de forma. Na forma tradicional de sinfonia com o 1º movimento baseado na forma sonata, scherzo, movimento lento e finale com estrutura livre são empregados meios estilísticos que formarão a futura linguagem musical característica de Shostakovich, como citações, tom grotesco e lacônico. Constata-se isso na introdução lenta, que nada tem da gravidade e ênfase em geral tão comum em começos de sinfonia, porém prepara os temas principais, uma “marcha dissimulada” e uma valsa rica, que caricaturam, no fundo, o princípio da formação polar de temas.

O primeiro movimento emprega, de certo modo, a prescrição tradicional de forma, mas logo a dobra, transformando-a em uma colagem de imagens bizarras. Toda a sinfonia conserva esse tom, que é mais bem evidenciado no scherzo com sedutora riqueza instrumental. O piano é incluído aqui, assim como no último movimento, aguçando a sonoridade. O scherzo lembra Prokofiev em sua precisão rítmica, mas o trio tem uma harmonia que lembra as técnicas de composição russa do final do século XIX. No final do movimento, estas duas características se sobrepõem enfaticamente. O 3º movimento é caracterizado por uma meditação de surpreendente lirismo, sua parte central com elementos de marcha fúnebre. No finale, pedaços de temas formam, muitas vezes sobre cromatismos, uma ciranda que vai ao exagero através do extremo registro da orquestra. Mais uma vez, Shostakovich rompe com limitações existentes, o que é acentuado pelo final dramático da sinfonia.

A Sinfonia nº1 tornou Shostakovich conhecido da noite para o dia. Ainda nos anos 20, a obra foi apresentada no Ocidente por regentes como Toscanini, e até hoje ela está entre as sinfonias mais tocadas de Shostakovich.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

3 de Julho de 2007

Regente: Bojan Sudjic (Sérvia)