domingo, 22 de abril de 2007

Albert Roussel - Sinfonia nº3 em sol menor, op.42

Considerada a obra-prima deste compositor francês, a Sinfonia em Sol menor foi composta em 1929-30, encomendada por Serge Koussevitsky nas celebrações dos 50 anos da Orquestra Sinfônica de Boston. Albert Roussel (1869 – 1937) iniciou tardiamente sua carreira, na sua juventude serviu na marinha francesa. Sua obra, no entanto, é extensa e conta com ballets, suítes orquestrais, quatro sinfonias, música de câmara, e até mesmo um concerto para piano. A estréia da sinfonia contou com a presença do próprio compositor que empreendeu sua única viagem à América. A obra foi aclamada pela crítica e admirada por compositores como Poulenc e Prokofiev, além de Lutoslawski a considerar uma das quarenta melhores peças do repertório erudito.

Logo no início da música, o compositor utiliza um recurso já usado por Beethoven, que é o de “chamar a atenção do público”, pela característica fabulosa da abertura. A vitalidade rítmica da sinfonia é contrabalanceada por um gentil e singular lirismo característico do compositor. A obra, portanto, contagia de uma forma bastante positiva o ouvinte. Atente para um tema de cinco notas presente no primeiro, no segundo e no quarto movimento.

Após o vigor do primeiro movimento, o segundo opera uma mudança radical no ritmo e no clima. O Adagio, o movimento mais longo, contém melodias arrebatadoras e uma deliciosa seção rápida. Já o ponto culminante deste movimento evoca claras e poderosas emoções antes de voltar-se para um mundo de paz e harmonia.

O terceiro movimento, um scherzo, talvez seja o movimento mais acessível, com elementos de dança e os fortes ritmos característicos. Provavelmente, é o scherzo mais bem-sucedido composto por Roussel, extremamente leve e alegre, porém não apelando para a vulgaridade e inconseqüência. O finale, Allegro con spirito, mantém o bom humor com clareza melódica e ritmos marcantes; o retorno do tema que se faz presente tanto no primeiro quanto no segundo movimento finaliza essa bela obra sinfônica.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Regente: Nicolas Rauss

Jean Sibelius - Concerto para Violino e Orquestra em Ré menor, op.47

Este é o único Concerto de Jean Sibelius (1865 – 1957) para instrumento solista e orquestra, o compositor finlandês deixou apenas outras peças menores para violino e orquestra, como Serenatas e Humoresques. Ela destaca-se das demais obras do compositor justamente por isso e pelo seu tom especial e fantástico, integrando a literatura de concertos como obra consagrada para violino e orquestra juntamente com os concertos de Beethoven, Mendelssohn, Brahms e Tchaikovsky. A primeira versão, de 1903, não agradou nem ao público nem ao compositor, apresentava-se mais complexa, mais desunida, além de ser também ainda mais difícil tecnicamente. Buscando um equilíbrio de expressividade maior na sua forma geral, Sibelius revisou e atingiu um resultado que é magnífico. Esta versão final, que veremos hoje, foi estreada em Outubro de 1905, em Berlim, sob a batuta de Richard Strauss. Conforme consta no Centro de Informações de Música Finlandesa, neste Concerto para Violino, Sibelius conseguiu fundir admiravelmente a continuidade sinfônica desejada com uma extrema complexidade técnica, não havendo nada de superficial na virtuosidade da peça. Tudo se faz necessário, até mesmo a cadenza no primeiro movimento, que além de ser uma amostra de virtuosismo, faz também parte essencial da estrutura geral, sendo o grandioso clímax do desenvolvimento do primeiro movimento. Com certeza, a escrita violinística deste concerto exige um solista com habilidades técnicas superiores, mas ao mesmo tempo, o compositor soube explorar todo o inesgotável potencial lírico e melódico do violino.

O concerto começa com algo místico, as cordas pulsando levemente, e então, o violino apresenta uma idéia simples, doce e expressiva. A clarineta repete o tema, e logo após vemos a genialidade de Jean Sibelius, no que se refere ao ambiente harmônico estabelecido. Então um segundo tema apaixonado é dado pela orquestra, seguido do solista, extraindo tudo o que se consegue de expressividade e lirismo do instrumento numa região aguda do mesmo. Ao final do movimento orquestra e o solista retomam simultaneamente todos os temas já expostos anteriormente em uma finalização apoteótica.

Já o segundo movimento, Adagio Di Molto, estabelece um contraste gritante entre os outros dois movimentos. Melodioso, o compositor desenvolve todo o potencial lírico do violino. Uma breve introdução da orquestra deixa o caminho aberto para um solo que lembra uma canção, incrivelmente bela e tocante, acompanhado pela orquestra. É nesse movimento que Sibelius expressa em música toda sua capacidade expressiva, e carga emocional.

Seu movimento final é uma dança que leva a virtuosidade da peça ao seu clímax. Cabe ao violino o anúncio da primeira idéia, a orquestra replica com uma segunda que retomado pelo violino varia o tema, com arpejos, acordes, escalas em harmônicos, até que chega ao ponto em que o solista fica tão ocupado com suas passagens virtuosísticas, que a orquestra toma a dianteira, e conduz a um final extremamente brilhante, com o violino numa nota agudíssima e a orquestra terminando em um esplendoroso uníssono.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Solista: Daniel Guedes

Regente: Nicolas Rauss

Jean Sibelius - Finlandia, op.26

Por volta de 1898, Jean Sibelius passava por um momento em que ele não estava satisfeito com a resposta do público na época, ou com o que ele achava que deveria ser uma resposta satisfatória à sua obra. Apesar de que ele já tinha começado a receber a generosa ajuda financeira anual provinda do governo finlandês, e que o sustentaria ao longo de sua vida, ele era muito sensível a respeito da vontade e, obviamente, da habilidade do público de acompanhar a evolução de sua linguagem musical. Ele expressou esse sentimento em seu diário, em Setembro de 1898: “Quão disposto estaria eu a sacrificar parte da ajuda financeira que tenho recebido em troca de entendimento e simpatia à minha arte – se alguém amasse meu trabalho.”.

Essas palavras parecem para nós tão incoerentes, especialmente devido à rapidez que essa situação mudou. A estréia de sua 1ª sinfonia, em Abril de 1899, foi tão bem sucedida, que foi a obra principal da Tour Européia da virada do século, realizada pela Filarmônica de Helsinque, e com esse sucesso, Sibelius foi comissionado a escrever música para uma série de quadros a respeito da história finlandesa. Ou seja, a obra que ouviremos se caracteriza como um Poema Sinfônico, pois retrata passo por passo uma determinada história, como se fosse uma trilha sonora, no caso, de antigas histórias finlandesas. Originalmente chamada “Finlândia Acorda”, ficou conhecida simplesmente como Finlandia, e foi usada num movimento para mobilizar o povo a opor-se contra a revogação da autonomia finlandesa pelo governo do Império Russo (na época se chamava Grande Ducado da Finlândia). Portanto, podemos afirmar que foi justamente esta música que colocou, e coloca até os dias de hoje, Sibelius como “o compositor finlandês”. A mensagem que esta grandiosa obra transmite é poderosa. Tanto é assim, que a história conta que foi tocada para soldados finlandeses antes de batalhas na guerra contra a Rússia. Porém, enquanto não há nada de errado com a figura de Sibelius como um autêntico nacionalista finlandês em si mesmo, é um pouco desapontador descobrir que na verdade seus pais eram suecos e ele só aprendeu a língua finlandesa quando já era adulto, apesar de ter nascido e sempre vivido na Finlândia.

Boa parte da peça é composta de música vibrante e turbulenta, evocando desta forma a bravura inerente ao povo finlandês. Porém, no final, uma calmaria sobrevém à orquestra e a serena melodia do Hino Finlandês é ouvida. É muito comum afirmar erroneamente que esta passagem é uma melodia folclórica finlandesa, porém ela é da própria autoria de Sibelius. Mais tarde, ele remodelou o “Finlandia-hymni” como uma única peça, cuja letra foi escrita em 1941 pelo escritor e poeta finlandês Veikko Antero Koskenniemi.

Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

17 de Abril de 2007

Regente: Nicolas Rauss

sábado, 21 de abril de 2007

Saint-Säens - Concerto para Piano e Orquestra nº2 em sol menor

Composta em 1868, aos 33 anos do compositor, é provavelmente o seu Concerto para Piano mais popular. Estruturado em três movimentos, em vez de seguir o esquema “Rápido-Lento-Rápido”, denota uma modificação, o primeiro movimento lento, e o segundo um “Allegro Scherzando”.

O piano arrebata o ouvinte desde o início ao apresentar uma longa introdução improvisacional que evoca bastante o barroco, por causa da influência que Saint-Säens estava tendo na época, de Liszt, que estava transcrevendo para piano solo várias obras de Bach para Órgão. Após a apresentação de um primeiro e melancólico tema baseado em um esboço abandonado, de autoria de seu pupilo, Gabriel Fauré, um breve segundo tema é apresentado, seguido de uma série de passagens que conduzem de forma estonteante à reexposição do tema em elevada intensidade sonora. Logo em seguida, é dada ao solista uma longa “cadenza”, oportunidade ímpar para revelar toda sua capacidade de expressividade além de virtuosismo.

O segundo movimento, o mais famoso dos três, é em Mi bemol Maior, e em vez do típico “Adagio” é um leve e gracioso Scherzo. A personalidade energética e ao mesmo tempo delicada deste movimento é uma característica do bom-humor musical de Saint-Säens, mais famoso em seu “Carnaval dos Animais”.

No último movimento reafirma-se a tonalidade de Sol menor, articulado por uma tarantella prolongada. Em uma velocidade alucinante, orquestra e solista apressam-se tumultuosamente, ganhando volume e terminando numa explosão de arpejos em sol menor.

Em sua estréia, na sala Pleyel, este Concerto foi regido pelo lendário Anton Rubinstein, e tocada pelo próprio Saint-Säens, que apesar de gozar de excelente fama como pianista, não o tocou muito bem, pois o compôs em três semanas e não teve tempo para estudar o suficiente, o que fez com que a peça não fosse de início um sucesso.


Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

3 de Abril de 2007


Solista: Olinda Alessandrini

Regente: Isaac Karabtchevsky