Em 1807, Beethoven passava por um período bastante produtivo. Havia composto seu Concerto para Violino, a Sonata “Appassionata” para piano, os quartetos de cordas “Razumovsky” e trabalhava na 5ª sinfonia. Foi nesse período bem-sucedido que recebeu uma encomenda do Príncipe Nikolaus Esterházy II que, como todo 13 de setembro, homenageava sua mulher com uma missa especialmente composta para celebrar seu santo patrono. Apesar de encomendas desse tipo geralmente serem bem-vindas, Beethoven deve ter se sentido pressionado, pois Joseph Haydn havia composto nada menos que seis missas, verdadeiras obras-primas, em anos anteriores para essa mesma ocasião. Como se não bastasse isso, Beethoven nunca tinha composto uma missa antes. No entanto, ele cumpriu o contrato, e apesar de ser mal-recebida pelo Príncipe Esterházy (segundo o teórico e pianista Charles Rosen foi seu fracasso mais humilhante), Beethoven não desacreditou na qualidade dela, que mais tarde foi bem-recebida em Viena.
A obra é dividida segundo as cinco partes da missa cíclica – Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus/Benedictus e Agnus Dei – e destaca-se pela mudança súbita de dinâmica e dramaticidade características de suas obras posteriores, podendo ser notadas especialmente nos momentos de profundo júbilo e angústia. No Kyrie, a ausência das flautas, trompetes e tímpanos confere introspecção ao colorido orquestral, ao som dos pedidos de piedade ao Senhor e a Jesus Cristo. O Gloria entra triunfante, com um exuberante colorido e textura orquestral, porém o caráter logo fica sombrio e introspectivo na parte Qui tollis peccata mundi (tirai os pecados do mundo!), mas termina com o mesmo caráter alegre da abertura, numa espirituosa passagem imitativa Cum sancto spiritu. Um exemplo de “personalização” do texto da missa se dá no início do Credo com o coro proclamando esta palavra quatro vezes cada vez mais veemente até uma explosão musical, e pode-se ver uma descrição do significado das palavras nesse movimento, que também contém a descrição de parte da Paixão. Sanctus começa num caráter reverente, descrevendo a santidade do Senhor. Já sua continuação, Benedictus, como é comum, é a hora em que o quarteto vocal solista se sobressai, com o coro repetindo com variações sobre um refrão homofônico. No Agnus Dei, destaca-se um momento particularmente dramático em que o coro, como uma congregação de penitentes, roga Miserere nobis. Beethoven reintroduz a melodia lírica inicial do Kyrie para assim ligar os temas de perdão e paz, levando a obra a um doce e terno final.
Program Notes © 2007 by Eduardo Knob
15 de Maio de 2007
Solistas: Elisa Machado (Soprano), Ângela Diel (Mezzo-soprano), Eduardo Bighelini (tenor), Daniel Germano (barítono).
Regente: Manfredo Schimiedt
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